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Foto do escritorJandira Pillar

De onde vem a minha vontade de ensinar?



Não lembro quando decidi ser professora. Muitos fatores podem ter contribuído para minha decisão.


Lembro, porém, nitidamente, de uma sensação, uma vontade inexplicável de ensinar um menininho a ler. Estávamos na primeira série. Eu, que havia aprendido a ler antes de chegar na escola (meus irmãos mais velhos eram todos leitores e havia revistas e livros pela casa), terminava as tarefas rapidamente e ia para a merenda. Ele, um menino franzino e choroso, nunca fazia os temas e, pela “lógica” da época, não saía para o recreio nem para a merenda.


Eu comia a merenda e voltava correndo, sentava ao lado dele e tentava ensiná-lo a juntar as letras, as sílabas, fazia-o repetir as palavras. Não fazia para ele; ensinava-o. Na minha inocência, sentia que deveria mostrar-lhe o caminho da autonomia. Chorei algumas vezes com ele.


Passaram-se os anos e abracei a profissão e o sonho de muitos alunos. Até hoje, quando penso em desistir de ensinar a escrever redação, vem à minha imagem os olhos tristes de Alberto, sedentos de comida e de saber. Menino pobre e negro, faminto e excluído. A lição: nunca, na minha vida de professora, deixei um aluno sem recreio e sem merenda.


Pobre ou rico, branco ou negro, todos merecem uma chance de aprender a ler e a escrever, de ir ao recreio, de ter o que comer... A vontade de ensinar a escrever? Só aumentou!


(Texto escrito no Dia do Professor).

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