Não lembro quando decidi ser professora. Muitos fatores podem ter contribuído para minha decisão.
Lembro, porém, nitidamente, de uma sensação, uma vontade inexplicável de ensinar um menininho a ler. Estávamos na primeira série. Eu, que havia aprendido a ler antes de chegar na escola (meus irmãos mais velhos eram todos leitores e havia revistas e livros pela casa), terminava as tarefas rapidamente e ia para a merenda. Ele, um menino franzino e choroso, nunca fazia os temas e, pela “lógica” da época, não saía para o recreio nem para a merenda.
Eu comia a merenda e voltava correndo, sentava ao lado dele e tentava ensiná-lo a juntar as letras, as sílabas, fazia-o repetir as palavras. Não fazia para ele; ensinava-o. Na minha inocência, sentia que deveria mostrar-lhe o caminho da autonomia. Chorei algumas vezes com ele.
Passaram-se os anos e abracei a profissão e o sonho de muitos alunos. Até hoje, quando penso em desistir de ensinar a escrever redação, vem à minha imagem os olhos tristes de Alberto, sedentos de comida e de saber. Menino pobre e negro, faminto e excluído. A lição: nunca, na minha vida de professora, deixei um aluno sem recreio e sem merenda.
Pobre ou rico, branco ou negro, todos merecem uma chance de aprender a ler e a escrever, de ir ao recreio, de ter o que comer... A vontade de ensinar a escrever? Só aumentou!
(Texto escrito no Dia do Professor).
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