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Foto do escritorGabriel Avila

A quem pertencem as bibliotecas?

Em 2015, quando fomos pela primeira vez a Chicago, muitas coisas me chamaram a atenção, particularmente, o incentivo que os dois netos do Lino (meu marido) tinham à leitura. Os pais dos pequenos, na época, não liberavam o uso de aparelhos celulares a eles, priorizando a “hora da leitura”, momento em que a família lia e comentava os livros; já as bibliotecas públicas que as crianças frequentavam mantinham interessantes projetos, tais como premiar aquele aluno que lia mais livros com ingressos para entradas em parques e eventos infantis.

Depois de nos levarem para conhecer as bibliotecas que as crianças frequentavam, fomos todos à grande biblioteca de Chicago. Ela é imensa, gigantesca, poderosa. Circulamos apenas em alguns dos andares (impossível percorrê-la toda em uma manhã), tiramos fotos e fiquei surpresa ao perceber que, entre as pessoas que estavam no recinto, havia um senhor muito pobre, possivelmente um morador de rua, que retirava livros das prateleiras e os folheava, encantado. Ficava alguns momentos com um livro, devolvia-o à prateleira e retirava outro, folheando-o, absorto, tocando as páginas com os dedos, movendo os lábios. Estaria lendo?

Com certeza. Todos temos a capacidade de ler, de nos encantar e de interpretar à nossa maneira um livro, uma obra de arte, uma imagem qualquer. A questão, em nosso país, é o acesso, a motivação, elementos cruciais para a leitura. No Brasil, quem tem acesso às bibliotecas? Que brasileiros (e estou me referindo aos mais pobres) podem entrar, contemplar os livros, refletir sobre os títulos, inspirar-se para ler? E, nas escolas, as crianças podem frequentar as bibliotecas, escolherem os livros e até trocarem de livro se não gostarem?

Bibliotecas têm um sentido bem mais amplo do que vários livros catalogados que não se pode tirar do lugar; também representam muito mais do que as coleções de clássicos que enfeitam estantes nas lindas salas de muitas famílias, os quais nunca foram lidos, servindo apenas para serem exibidos para as visitas. Por isso, seria interessante nos perguntarmos: que livros temos em nossas bibliotecas públicas e privadas? Que sentido eles têm para nós? Que projetos de leitura os candidatos a cargos políticos têm para a população? E, nós, em nossa casa, com nossa família, que espaço e tempo reservamos para a leitura e para a discussão de temas importantes que são abordados em livros e em outros meios de comunicação?

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